Grissom estava congelando, ele não via a hora de chegar em casa, se enfiar debaixo das cobertas e se encostar no corpo quente de Sara.
Ele olhou ao redor, como se analisasse o perímetro, Cath estava estranha, assim como Greg, eles o encaravam a todo momento, começou a perceber logo depois de ter cumprimentado todo mundo. De início, tinha achado perfeitamente normal, estavam curiosos quanto à sua folga, que dificilmente tirava, mas depois com a madrugada adentro, os pegava o analisando com frequência.
Sentiu um calafrio na espinha ao imaginar que estavam desconfiados de alguma coisa.
Não queria, de maneira nenhuma, que Sara se prejudicasse por conta do relacionamento deles.
Queria protegê – la. Em casos extremos, poderiam ser alvos de inquérito administrativo.
Sabia que ela sofreria, e não conseguia imaginar a mulher que amava às voltas com um transtorno daquelas proporções.
Precisava dar um jeito nas coisas, sem que ela não percebesse.
Depois com mais calma, ele resolveria o que fazer.
Por hora, só precisava continuar aproveitando os doces momentos que passavam juntos.
E se pegou jurando que faria qualquer coisa por ela.
Sua intenção foi reforçada, quando pousou os olhos nela, assim que entrou naquele quarto.
Ela dormia tranquilamente, aquecida por uma pesada coberta, teve vontade de acordá – la somente para dizer o quanto a amava e que se fosse preciso, daria a vida por ela.
Foi para o banheiro, tomou um banho, e se ajeitou na cama com ela.
Seu corpo gelado, logo recebeu o calor do corpo dela.
Ele beijou seus cabelos, murmurando um boa noite muito baixinho.
….......
Ainda chovia quando ela acordou, sentiu as pernas dele entre as suas e seu braço esquerdo repousando em sua cintura.
Não sentiu vontade de sair dali, estava aconchegante e gostoso.
Ela se mexeu devagar, mas ele a puxou para bem junto de seu corpo.
_Onde vai ?
_Em lugar algum, amor. Estava me ajeitando.
_Vamos dormir mais um pouco.
Ele escondeu o rosto em seus cabelos, encostando ainda mais o peito em sua costas. Ela estava perfeitamente encaixada nele.
_Tá bom.
Algumas horas depois eles tomavam café na cozinha, após um delicioso banho … muito quente ! Em todos os sentidos.
_Me conte como foi no lab, querido.
_Tudo bem … - ele apenas disse.
_Tudo bem ? Só isso ? Eles não festejaram sua volta, a Cath não brigou com você ?
Ele deu um sorriso engraçado para ela, como se estivesse sem jeito.
_Bom … os três pareciam aliviados e a Cath ficou me dando indiretas do sufoco que passou, eu fingia que não ouvia.
Ela riu.
_Você fez isso ? Eu odiava quando fazia isso comigo. Queria te matar !
_E agora ? Ainda quer me matar ?
_Não … você está muito diferente. Não é mais o mesmo. Agora quero você bem vivo !
Outro sorriso dele.
Tinha feito a coisa certa, não contando a ela de suas suspeitas. Ela parecia tão bem, não queria que isso mudasse.
_Gris, eu preciso passar em meu antigo apartamento para ver como estão as coisas, pagar o aluguel, abrir um pouco as janelas … enfim, dar uma geral.
_Tudo bem querida, vou revisar alguns relatórios, preciso colocar a papelada em ordem ! - Antes ele ficava no laboratório até terminar, mas agora tinha motivos para querer voltar para casa.
_Você trouxe trabalho para casa ?
_Sim, mas prometo que não vou me demorar.
_Não tem problema … eu também não me demoro, logo estarei de volta.
Ela se levantou, passou os braços pelo seu ombro, depois ajeitou o cabelo dele na altura da testa e o apertou contra seu peito.
_Eu te amo muito !
Por que aquilo, de repente ? Seu coração disparou, contrariando seu pensamento anterior, ficou em dúvida se falava com ela sobre a Cath e o Greg. Ela o amava e, certamente confiava muito nele.
_Eu também …
Talvez mais tarde.
Ela o beijou com delicadeza. Um beijo longo e demorado, mas suave.
Ela tinha um jeito diferente de beijar. Geralmente quando ele recebia um beijo dela, se deixava levar
pelo sabor, pela maciez e pelo jeito que ela usava as mãos, como complemento. Passeava pela nuca,
pelo pescoço e pelas suas têmporas, depois sempre terminavam em seu peito. Aquilo o deixava completamente entregue.
Ela se separou de sua boca e ficou olhando para ele, que mantinha os olhos fechados.
_Hei … viajando ?
_Sim … na sua boca. Ela é uma delícia. Adoro quando me beija.
_Bom saber … eu já estou indo.
Ele tombou a cabeça e ficou observando ela sair.
_Sara ?
Ela se virou para ele, ajeitando o cabelo atrás da orelha.
_Tenha cuidado.
Ela dirigia muito bem, mas corria demais, isso sempre o preocupou. Embora, ultimamente tenha melhorado consideravelmente neste aspecto. Talvez de tanto ele insistir.
_Já sei … não corra demais !
_Boa aluna !
_Obrigada … professor !
….......
Sozinha, naquele silêncio, o apartamento parecia maior que realmente era.
Se lembrou de sua vida ali, das angústias que passara, das noites de solidão, dos bons momentos quando recebia Greg ou Nick, da bagunça que eles faziam quando se encontravam para tomar cerveja.
Naquele instante percebeu o quanto sua vida mudara, e a não ser pelos seus amigos, não sentia a mínima falta dali. Muitas lágrimas haviam rolado ... deitada naquele sofá.
Empurrou a porta do quarto e abriu a janela.
Estava há muito tempo fechado e o cheiro de mofo já impregnava o ambiente.
Se sentou na cama e alisou o lençol, milhões de vezes dormira sozinha, carente, sem esperanças, apenas abraçada ao seu travesseiro.
Em cima do aparador aos pés da cama havia um bilhete.
“Obrigada por tudo, você vai ser a minha doce Sara, sempre. Greg”
Sensações conflitantes encheu seu coração. Primeiro uma imensa alegria, depois uma certa angústia por saber que o enganava.
Ela tinha sido sua confidente por tanto tempo, e agora ela escondia dele seu maior segredo.
Nem sempre as coisas acontece do jeito que gostamos, nem sempre somos donos de nossas vontades, principalmente quando não estamos sozinhos.
E ela não estava, tinha o homem que amava, cada vez mais apaixonado, e isso fazia toda a diferença. Só esperava que suas opções não magoassem ninguém.
Fechou novamente a janela, depois a porta da frente e foi embora.